Uma tragédia de saúde pública abalou o município de Parelhas, no Rio Grande do Norte, após um mutirão de cirurgias de catarata deixar 15 pacientes com graves complicações. Ao menos 8 desses pacientes precisaram passar pelo procedimento de remoção do globo ocular devido a uma infecção bacteriana. O mutirão ocorreu nos dias 27 e 28 de setembro na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, mas as complicações começaram a surgir logo após as cirurgias.
Dos 20 pacientes operados no primeiro dia, 15 apresentaram sintomas de endoftalmite, uma infecção ocular severa causada pela bactéria Enterobacter cloacae. O secretário de saúde de Parelhas, Tiago Tibério dos Santos, confirmou que 8 pacientes tiveram que retirar o globo ocular, enquanto outros 4 passaram por vitrectomia — procedimento em que o gel que preenche o olho é removido — e 3 seguem em acompanhamento médico.
Pacientes Atingidos
Uma das pacientes afetadas, a cabeleireira Izabel Maria dos Santos Souza, de 63 anos, passou por um procedimento de evisceração ocular no início de outubro, em que o conteúdo do globo ocular é removido, mas os músculos da região são preservados. Ela segue internada no Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal. A infecção bacteriana também se espalhou para a pálpebra de Izabel, causando preocupação com a possibilidade de se tornar algo mais grave, caso atinja o cérebro.
Segundo o filho de Izabel, Evandro Santos, a mãe está melhor, mas o trauma psicológico afeta toda a família. "O psicológico dela está bem mexido. Ela teve que tirar o olho, e até agora não temos respostas claras sobre o que aconteceu", desabafou.
Investigação em Curso
A prefeitura de Parelhas iniciou um inquérito civil público para apurar as responsabilidades pelo incidente, e representantes da empresa Oculare Oftalmologia Avançada LTDA, contratada para realizar o mutirão, começaram a ser ouvidos nesta terça-feira (15). A empresa alega que o mutirão foi conduzido por um "oftalmologista experiente" e que todos os protocolos médicos e de segurança foram seguidos. No entanto, o município declarou que dos 330 procedimentos semelhantes realizados desde maio de 2022, foi apenas neste mutirão que complicações graves ocorreram.
A filha de outra paciente, que pediu para não ser identificada, relatou que a mãe, de mais de 80 anos, começou a sentir um desconforto no olho operado logo no dia seguinte à cirurgia. Apesar de a situação ter sido inicialmente desconsiderada pelo médico, a condição da idosa piorou e ela precisou ser transferida para Natal, onde os médicos recomendaram a remoção do olho para evitar complicações mais graves, como uma infecção generalizada.
O Alívio Após o Trauma
Embora o sofrimento dos pacientes e suas famílias seja imenso, alguns encontram alívio no fato de que o pior foi evitado. “Diante de tudo que passamos, estamos mais aliviados, porque ela deixou de sofrer e, na medida do possível, vem se recuperando bem", comentou a filha de uma das vítimas, após a difícil decisão de remover o olho para impedir a progressão da infecção.
O caso segue sendo investigado pelas autoridades de saúde de Parelhas, com a expectativa de que a causa exata da infecção seja determinada e medidas corretivas sejam implementadas para evitar futuros incidentes.