Quando dona Sebastiana nasceu não existia computador, rádio, avião, nem carros nas ruas. Não existia TV, nem o Corinthians ou o Flamengo. Dona Sebastiana veio ao mundo há mais de um século, quando o Brasil tinha acabado de se tornar uma república, com escravos recém-libertos e sem eletricidade - e tinha menos habitantes do que a Grande São Paulo tem hoje.
Segundo o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), no dia 3 de maio de 1895 nasceu Sebastiana de Lourdes Silva, que nesta terça-feira completou 116 anos. História
viva da construção da cidade de Resende (RJ), ela pode ser a mulher mais velha do mundo - segundo o Guinness, o livro dos recordes, o título hoje pertence à americana Besse Cooper, de 115. Ao G1, a equipe do Guinness informou que até o momento não há em seus registros nenhuma solicitação formal para verificação dos documentos oficiais de Sebastiana.
Nesta terça, o G1 visitou o asilo Nicolino Gulhot, onde Sebastiana vive há 24 anos. Lá, o que se ouve são relatos de uma senhora alegre, lúcida -- e fumante até os 110 anos.
"Consta que ela veio por livre e espontânea vontade. Ela morava só, não teve filhos. Ela foi pro asilo e pediu para ficar", conta a diretora Teresinha Degmar Honório, que trabalha lá há 16 anos. "Ela é uma pessoa lúcida, ativa, muito alegre e sempre ajudou a olhar os outros idosos. Outra coisa: ela nunca falou que morava no asilo. Ela dizia: 'aqui é a minha casa.'"
Teresinha conta ainda que dona Sebastiana adora dançar - "forró é o forte dela". Agora, após perder a visão e ter um acidente vascular cerebral (AVC), ela está limitada à cama. "Mas ainda canta um pouco", contam os funcionários do asilo.
A alimentação não tem restrições, explica a nutricionista Isabel Souza. "Ela come bem. Adora um café com pão molhado".
A saúde, segundo a médica Marcilene Fonseca, está boa. "Ela é uma pessoa saudável. Um pouco hipertensa, mas nunca teve escaras", diz ela, que credita a longevidade à genética.
E qual seria o segredo de tanta longevidade? "Acho que é a genética", diz.
Já Teresinha diz que um dos motivos é que ela nunca guardou nada para si. "Ela sempre falou tudo o que pensava e achava, por isso ela está vivendo. Se você fizesse qualquer coisa que ela não gostasse ela te devolvia na hora."
Fora dos padrões
Casada, mas sem filhos, Sebastiana se separou "porque não gostou do marido". "Largou ele na primeira noite", diz Teresinha, sem contar o resto da história. "Vocês iam cair de costas, não posso dizer."
"Ela sempre fugiu dos padrões", diz a diretora do asilo. "Quando perguntavam a idade dela, ela dizia: 'pra você ter uma ideia da minha idade, eu sou mais velha que a ponte vermelha [de Resende, que tem 106 anos], eu atravessava o Rio Paraíba com meus pais numa pinguela [duas tábuas amarradas numa corda]'".
"Agora não está enxergando, mas antes ela era terrível. Quando fazíamos festa era a primeira a sair dançando. É uma gratificação que a gente recebe vê-la tão bem com essa idade", diz o presidente do asilo, Joaquim Correa Pereira.
O asilo de três centenárias
Além de Sebastiana, o asilo Nicolino Gulhot tem mais duas mulheres com mais de cem anos - de 100 e 102. Com financiamento baseado em doações e em parcerias com a prefeitura, o casarão funciona pelo trabalho de voluntários e de 26 funcionários que cuidam dos 34 idosos.
São pessoas como Maria do Socorro Oliveira, que formou há 15 anos um grupo de amigas voluntárias. "Mas todas saíram, só eu fiquei. Venho todos os dias, das 10h às 18h."
O presidente do asilo, Joaquim Pereira, conta que às vezes se passa necessidade: "já tivemos que atrasar salários". A funcionária Renata Elisa de Jesus, há um ano e cinco meses no asilo, diz que mesmo com dificuldades, nunca deixou de trabalhar. "Gosto muito daqui".
G1
Da redação TV SBUNA